quarta-feira, 25 de abril de 2012

Liberdade é preciso



"Salgueiro Maia"
por Paulo Galindro
Técnica mista sobre papel
Maio de 2007



Este blog não é político, nem nunca o será. Não obstante considerar que é um mal mais ou menos necessário, tenho de confessar em bem da verdade que não gosto de política, nem tenciono gostar. Pelo menos daquela que vemos diariamente nos media, porque da outra, a πολιτεία ou Politeía, que nasceu na Grécia e que Platão tão bem escreveu, dessa pouco já resta. Como dizia, não gosto de política, e sempre que posso tento manter-me afastado dela. Sei que é omnipresente, mas ainda assim posso sempre mudar de canal para ver um bom programa sobre animais ou uns desenhos animados, que têm manifestamente mais substância do que muitos dos discursos ridículos a que assistimos diariamente. Mas fiz esta ressalva porque esta data que se comemora hoje - o 25 de Abril - tem vindo a ser apropriada pelo discurso político, como se de uma vitória política se tratasse. Tenho 41 anos, e tinha 3 1/2 anos quando se deu a revolução que me daria a liberdade de poder escrever o que aqui estou a escrever, sem correr o risco de ser cozido em óleo quente ou ser sujeito à horrível tortura do sono, ou a quaisquer outras sevícias que os sádicos da PIDE (que segundo consta, ainda andam por aí a ocupar alguns cargos importantes) se entretinham a praticar com quem não partilhava os ideias vigentes. 3 1/2 anos apenas. Mas lembro-me perfeitamente da alegria que se via nas ruas. Lembro-me das palavras de esperança, do brilho dos olhos das pessoas. Lembro-me do meu pai cantar os hinos da revolução. Lembro-me de passar o tempo a cantar na varanda da minha casa, juntamente com todos os meus amiguinhos que estavam nas outras varandas o tema "Somos livres (uma gaivota voava)" de Ermelinda Duarte, porque antes não se podia fazer uma coisa tão ofensiva.
A memória é curta... tão curta. E apesar de às vezes nos tratarem como se fôssemos uma manada, é pena não sermos elefantes. Porque esses têm uma memória à prova do tempo. É que Salazar foi Ministro das Finanças. Político portanto. Político com armas por trás como muitos outros ditadores, mas ainda assim político. Nunca se esqueçam disso meus amigos. Por isso, hoje, porque sou livre - pelo menos por enquanto - reservo-me o direito de não ouvir uma única palavra que venha da boca de um político. Porque o 25 de Abril foi uma vitória do anónimo, do cidadão comum, dos eternamente lixados antes e depois. foi uma vitória da inteligência sobre a ignorância. Não teve cor. Nem a vermelha dos cravos, que é flor que eu não gosto.

E para aqueles que por qualquer razão não sabem do que estou a falar, podem ler por exemplo o livro"Levantado do Chão" de José Saramago, para compreenderem um pouco melhor a vida dos vosso pais e avós. Eu compreendi tão bem.


3 comentários:

Sílvia Mota Lopes disse...

Paulo partilho contigo o sentido de politica...o Salazar foi professor do meu avô, nunca o ouvi dizer mal dele apenas me disse que ele o convidou para ministro da justiça e o meu avô recusou...pelas razões que sabemos.
O 25 de Abril não tem cor... talvez o cravo também é flor que não gosto mas vermelho sim, pode representar a morte mas também a vida.
também cantava a canção...mas sabes uma coisa Paulo o 25 de Abril também foi um virar de página para a mulher, esse ser que não é superior mas também não é inferior ao homem.
É pena que muitas pessoas ainda não saibam qual o verdadeiro significado de liberdade...essa que tem muito que se lhe diga! :)
beijinhos

Pintarriscos disse...

Nem mais... Silvia, nem mais. Quanto às mulheres, gostava de poder acreditar nisso. Foi de facto um virar de página, mas há ainda muita coisa para fazer, especialmente num país como o nosso. Mas enfim... como dizia o poeta, o caminho faz-se caminhando.

Bj

Sílvia Mota Lopes disse...

:)isso mesmo o caminho faz-se caminhando...
é verdade os patins em linha são bem mais fáceis de andar do que aqueles com 4 rodas do nosso tempo, a minha filha também aprendeu numa hora:)

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