quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Biblioteca Municipal de Carnaxide - Passo-a-Passo 34



Dia#26

Como dizia no post anterior, estou aos poucos a tornar-me numa criatura nocturna... qualquer dia experimento dormir de cabeça para baixo com os pés agarrados ao candeeiro do quarto e os braços cruzados sobre a cara. Só tenho de tomar cuidado com os primeiros raios de sol para não me transformar em pó, e também com dentes de alho em lugares insuspeitos.
E agora, como tenho estado em casa com o meu filhote caçula que está doentito, esta minha vocação noctívaga ainda está mais vincada pois só tenho saído à noite, quando vou para a biblioteca pintar.
Pergunto-me até quando vou aguentar esta vida dupla que tenho vivido nos últimos anos. Ser arquitecto na função pública durante o dia, e á noite, ilustrador, sonhador e muralista. Só o medo pelo futuro dos meus filhos me tem impedido de mandar a minha primeira actividade às couves. Mas sei que mais tarde ou mais cedo atiro-me de cabeça ao meu sonho e mudo de vida... mudamos de vida. Nesse dia vou ser o homem mais leve do universo e mais feliz do mundo. Tenho a certeza de que os meus filhos preferem um pai mais presente, completo, feliz e criativo, mesmo que inseguro financeiramente, do que um pai dividido, triste, ausente, cansado e com um ordenado garantido ao fim do mês.
Mas, neste momento, tenho medo... muito medo desse passo. E o medo retira-me força anímica, paciência e vontade de continuar, combustíveis fundamentais para se aguentar o ritmo que imponho à minha vida.
Mas deixemo-nos de lamúrias. Ontem estive na biblioteca até às 2 horas da manhã, tal foi a intensidade da minha concentração. Quando olhei para o relógio já o atentado à minha saúde estava feito. Continuei a pintura da relva nos biombos, e adicionei-lhes ainda algumas flores.

Na música, fui abençoado pelos sons lindíssimos de Hope Sandoval & The warm inventions (céus! que voz!) em "Through the devil softly", pelas notas épicas dos Editors com o "In this light and on this evening" e  pelo universo de Moby em "Last night" e "Wait for me".

Paulo Galindro

1 comentário:

An disse...

No meu caso, que minha mulher e mais eu estejamos aguardando um cativo supõe ter que deixar a ilustração, mas não tenho magoa, ao invés sinto-me ledo, e pensar posso fazer coma tu, dormir pouco e trabalhar muito. De seguro paga a pena. Estou seguro que bem sabes qual foi a melhor obra que fizeste, e que por ela paga a pena case tudo. Cumprimentos e apertas.

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